terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Muita sede ao pote

Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 08/122015

A defesa do mandato de Dilma Rousseff, teoricamente, é muito mais fácil do que a aprovação do impeachment, porque depende de apenas 171 votos dos 513 deputados da Câmara. Mas essa conta é muito volátil

 
O Palácio do Planalto está se aproveitando da forma intempestiva como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu a partida ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em resposta ao apoio do PT ao seu pedido de cassação. Com a oposição pega de surpresa e a opinião pública ainda perplexa com o início do processo de impeachment, o PT foi para a ofensiva, mas a presidente da República está indo com muita sede ao pote.

Ontem, chegou a defender a suspensão do recesso do Congresso para que o impeachment seja votado. A defesa do mandato de Dilma Rousseff, teoricamente, é muito mais fácil do que a aprovação do impeachment, porque depende de apenas 171 votos dos 513 deputados da Câmara. Mas essa conta é muito volátil. Uma presidente da República que não é capaz de reunir esse apoio não teria mesmo condições políticas de liderar o país para enfrentar a crise, como já disse, com outras palavras, o ministro Ricardo Berzoini, secretário de Governo.

Depois de uma reunião na noite de domingo com os ministros da Casa Civil, Jaques Wagner, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, além de Berzoini, Dilma resolveu passar o trator na oposição e fazer uma maioria sólida na comissão especial que vai apreciar a admissibilidade do pedido de impeachment. Os líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), do PT, Sibá Machado (AC), e do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), cumpriram à risca a orientação de só indicar deputados governistas dos partidos aliados ao governo. Deu errado.

Picciani indicou deputados fechados com Planalto, usando como moeda de troca o Ministério da Aviação Civil. Mas não combinou com os demais integrantes da bancada, que sequer reuniu. O resultado foi uma rebelião comandada pelos deputados ligados ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e ao vice-presidente, Michel Temer, que praticamente desmontou a comissão especial, que já estava com 58 dos 65 integrantes designados.

O presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva (SP), articulou com os partidos de oposição e a ala dissidente do PMDB a formação de uma chapa alternativa, que vai disputar em plenário a formação da comissão. “Vamos retirar as nossas indicações da chapa oficial. Toda a oposição vai tirar”, afirmou Paulinho. Para disputar a eleição da comissão, regimentalmente, a chapa precisa ter, no mínimo, 33 nomes dos 65 lugares na comissão. Por causa da confusão, a eleição foi adiada de ontem à noite para hoje.

O Palácio do Planalto também tenta interferir em outros partidos. Pressiona a Rede para indicar o ex-petista Alexandre Molon (RJ) e não Elisiane Gama (MA), ex-PPS, para a comissão especial do impeachment. Também pressiona a cúpula do PSB para mudar a nominada de indicados até agora, pois os deputados Fernando Coelho Filho (PE), Danilo Forte (CE) e Tadeu Alencar (PE) são oposicionistas. A quarta vaga está sendo disputada por Luíza Erundina (SP), aliada de Dilma. Há confusão ainda nas bancadas do PTB, do PROS, do PSC e do PP.

Dissimulação
Do outro lado da Praça dos Três Poderes, o ex-ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha, depois de consumar sua saída do governo, disse que o PMDB, partido do qual faz parte, está “dividido” sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff. “Não posso ter posição diferente da do presidente do partido. O PMDB é um partido que está dividido sobre a questão. Temos que ver qual o segmento majoritário. O presidente Michel está fazendo essa aferição”, complementou.

A deriva de Padilha para a oposição não significa, porém, um desembarque imediato do PMDB do governo, nem mesmo do ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, que é muito ligado a Temer. Como tudo o que acontece no PMDB, uma ala defende o governo de forma “incondicional”; uma segunda é “mais ou menos neutra”; e a terceira “faz oposição”.

Há muito despiste: “Quem conhece o presidente Michel Temer e quem me conhece sabe que conspiração não cabe. O presidente Michel Temer é um democrata vocacionado à observância da lei”, disse Padilha. Mas articulações do PMDB com a oposição vão de vento em popa. Ontem, o senador José Serra (PSDB-SP) defendeu publicamente o afastamento de Dilma, enquanto Temer se reunia com o governador Geraldo Alckmin.

Para resistir, a presidente Dilma Rousseff mobiliza juristas ligados ao PT em sua defesa, pois acredita na possibilidade de barrar o impeachment no Supremo Tribunal Federal (STF). Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva organiza os sindicatos e demais movimentos sociais para ir às ruas em defesa do governo. Corre contra o relógio, porque a oposição das redes sociais já tem uma manifestação marcada para 13 de dezembro, domingo.
 
Mas a grande trapalhada do Palácio do Planalto foi vazar uma carta do vice-presidente Michel Temer  a Dilma Rousseff, com um rosário de queixas acerca do tratamento que recebera da presidente da República ao longo de cinco anos de convivência. O objetivo da carta era introduzir uma conversa pessoal, mas acabou divulgada para causar constrangimento. Foi tiro pela culatra, pois caiu como uma bomba no Congresso e pode representar o rompimento definitivo de Temer.
 

Um comentário:

Unknown disse...

creui que a fragil democracia brasileira, quer utilisar o 'mpeachment, palavra americana, como quem bebe um copo de agua. Esquece que a democracia se constroi et nao se destroi. Na verdade empeachment significa golpe. Dizendo empeachment fica parecendo mais com a democracia americana, que de democrate nao tem absolutamente nada. A Dilma foi eleita e pessoalmente nao é corrupta. Entao esta historia de "empeachment" é so para se excitar. No final tudo isto vai dar em nada e ela vai ficar, fazendo passar em silencio o fato de que uma reforma das instituiçoes é necessario, visto que a camara de deputados é uma caverna de ali baba com mais de quarenta ladroes.