quarta-feira, 14 de maio de 2014

Jogada de risco

Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 14/052014
Em regime de pleno emprego, a alta dos preços leva os trabalhadores a intensificar as lutas salariais sem o fantasma das demissões em massa. É o que veremos a partir de agora, tendo por pano de fundo a Copa do Mundo
A presidente Dilma Rousseff resolveu contra-atacar. Para conter o avanço da oposição, pôs o pé na estrada e engrossou a voz contra os pré-candidatos do PSDB, o senador Aécio Neves, e do PSB, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. Acusa-os de querer jogar o ônus do combate à inflação nas costas dos mais pobres — o primeiro, ao defender o fim dos subsídios; o segundo, ao propor uma meta de inflação de 3%. Segundo Dilma, essas propostas provocariam muito desemprego. Essa é a velha estratégia do PT para polarizar a eleição com o discurso de que haveria uma conspiração das elites e da mídia com objetivo de apeá-la do poder e liquidar as políticas sociais do atual governo. 
Esse discurso de campanha — é realmente do que se trata — passa uma borracha nas denúncias de corrução no governo, como o escândalo da Petrobras, e rechaça as críticas ao seu fraco desempenho — na saúde, na educação e na segurança pública, principalmente. Por trás da narrativa, existe também uma estratégia de manutenção dos atuais níveis de emprego a qualquer preço, para conter a insatisfação social e garantir a reeleição de Dilma. Para isso, a inflação é administrada muito próxima dos 6,5% do teto da meta, que é de 4,5% ao ano, mediante a contenção de tarifas de combustíveis e de energia. Ainda que isso dê grandes prejuízos à Petrobras e quebre o setor elétrico.
Onda de greves
A estratégia de Dilma Rousseff para se reeleger arma uma bomba-relógio que será detonada depois das eleições, pois a inflação projetada para 2015 já é de 7,5%. Ou seja, cedo ou tarde, talvez logo após o pleito, terá de ser feito um ajuste. Falar sobre isso, porém, virou uma armadilha mortal para a oposição. Endossa o discurso governista de que Aécio Neves e Eduardo Campos não querem o melhor para os mais pobres, defendem apenas os interesses dos mais ricos. Todo plano, porém, tem fricção, nunca acontece como foi concebido. Nesse caso, o que está fora do controle do governo é a reação dos trabalhadores à perda de poder aquisitivo com a inflação. No Rio de Janeiro, professores e rodoviários entraram em greve ontem. Em Pernambuco, trabalhadores da petroquímica de Suape depredaram ônibus e pararam o trânsito.
Em regime de pleno emprego, a alta dos preços leva os trabalhadores a intensificar suas lutas, sem o fantasma das demissões em massa. É o que veremos a partir de agora, tendo por pano de fundo a Copa do Mundo, embora a onda de greves deva se desdobrar até setembro, quando ocorrerão as grandes campanhas salariais de metalúrgicos, petroleiros, carteiros e bancários. Mesmo que a Central Única dos Trabalhadores (CUT), mais ligada ao governo, adote uma política de "apertar o cinto", as outras centrais, como a Força Sindical e a União Geral dos Trabalhadores (UGT), se encarregarão de radicalizar as campanhas salariais. Sem falar nos sindicalistas que têm outros candidatos disputando as eleições para Presidência da República, como os do PSTU, de José Maria e do PSOL, do senador Randolfe Rodrigues, ambos pré candidatos.

Mantega e Gabrielli
Mesmo sem CPI em funcionamento, a Petrobras continua na agenda negativa do Palácio do Planalto. Irão depor na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados, hoje e amanhã, respectivamente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli. A pauta é a compra da refinaria de Pasadena (EUA), com prejuízo superior a 500 milhões de dólares à empresa. 
Segundo a presidente Dilma, a direção executiva da Petrobras omitiu do Conselho de Administração, presidido por ela à época, duas cláusulas do contrato com a empresa belga Astra Oil, consideradas prejudiciais. A presidente diz que aprovou negócio com base num parecer falho juridicamente. Gabrielli rebate: "Não posso fugir da minha responsabilidade, do mesmo jeito que a presidente Dilma não pode fugir da responsabilidade dela, que era presidente do conselho", sustentou o ex-presidente da Petrobras ao comentar a acusação de Dilma.

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