quinta-feira, 15 de março de 2012

Jogos de guerra

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 15/03/2012
 

A presidente Dilma Rousseff há muito tempo pretendia fazer as mudanças nas lideranças do governo do Senado e da Câmara, mas não tinha um pretexto. Aproveitou a rejeição do Senado à recondução de Bernardo Figueiredo para a diretoria-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e as dificuldades de aprovação do Código Florestal para defenestrar tanto o senador Romero Jucá (PMDB-RR) como o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). Motivo: julgava-os mais afinados com os aliados, sobretudo do PMDB, do que com a orientação política da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti.

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Em relação aos próprios aliados no Congresso, Dilma adotou a estratégia que nos jogos de guerra é chamada de "tit for tat", ou seja, uma espécie de "olho por olho, dente por dente". É mais ou menos o que os israelenses fazem com os palestinos na Faixa de Gaza. Mas esse pode ser um jogo de perde-perde, a não ser que seja abrandado pela cooperação sempre que o outro lado demonstrar boa vontade de cooperar. Alternando retaliação e cooperação, acaba-se chegando à conclusão de que a coexistência pacífica é mais vantajosa do que a guerra. Seria uma forma eficaz de tratamento dado à oposição. Aos aliados da própria base, politicamente falando, é uma certa não conformidade.

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Políticos profissionais como os líderes do PMDB Renan Calheiros (AL) — que almeja suceder o senador José Sarney na Presidência do Senado — e Henrique Eduardo Alves (RN) — primeiro na linha de sucessão de Marco Maia (PT-RS) no comando da Câmara — são acostumados a comer frio o prato da vingança. Ambos não desistiram de seus objetivos. Renan dissimula a gana pelo cargo; Alves, ao contrário, cobra de Arlindo Chinaglia (PT-SP), novo líder do governo na Câmara, o cumprimento do acordo que levou o petista à Presidência da Casa em 2008. Engana-se quem espera deles qualquer retaliação no curto prazo. Apenas farão corpo mole quando o governo precisar de apoio para conter os governistas rebeldes do PMDB e outros partidos. O troco, se houver, virá depois que assumirem o comando do Congresso, se não forem derrotados pelo Palácio do Planalto.

Desafetos

A bancada do PR no Senado comunicou ontem à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que a negociação com o governo está encerrada. O senador Blairo Maggi (MT) cobrou de Ideli, na manhã de ontem, se o partido indicaria ou não o novo ministro dos Transportes, ao mesmo tempo em que comunicou que não aceitaria o reiterado convite feito pela presidente Dilma Rousseff para que assumisse o cargo. A gota d"água, na verdade, foi a indicação de Eduardo Braga para a liderança do governo no Senado. O peemedebista é desafeto do presidente do PR, o senador e ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento (AM).

Grande Norte

Com a passagem de Alfredo Nascimento à oposição, a presidente Dilma Rousseff corre o risco de desorganizar a sua base de apoio na Região Norte, a começar pelo Amazonas, onde obteve grande votação. Já havia perdido o Pará para o PSDB na eleição. Roraima, Amapá e Maranhão dependem muito da preservação das boas relações com o presidente do senado, José Sarney (PMDB-AP). Firme mesmo, somente o apoio dos irmãos Viana no Acre, assim mesmo com a oposição da ex-senadora Marina Silva e do deputado tucano Márcio Bittar, forte candidato à Prefeitura de Rio Branco.
 
Parado// 

 O Congresso parou ontem. Os novos líderes do governo, Arlindo Chinaglia, na Câmara, e Eduardo Braga (PMDB-AM), no Senado, pediram um tempo para lamber as feridas. Os dois receberam votos de confiança dos líderes afastados. Pura encenação. Terão que trabalhar muito para juntar os cacos.

Cacife

Arlindo Chinaglia se cacifou para assumir a liderança do governo na Câmara impondo duas derrotas ao antecessor, Cândido Vaccarezza (PT-SP), na própria bancada petista, a primeira na eleição de Marco Maia para a Presidência da Casa; a segunda, na escolha do novo líder do PT, deputado Jilmar Tatto (SP). Mas a cartada decisiva foi sua atuação na relatoria do Orçamento da União, na qual engoliu todos os sapos e atendeu a todos os pedidos do Palácio do Planalto.

Emoção

Perdão, mister Fiel, de Jorge Oliveira, que conta a história do operário Manoel Fiel Filho, morto em 1975 no Doi-Codi do II Exército, em São Paulo, logo após o assassinato do jornalista Vladimir Herzog no mesmo local, continua sua carreira vitoriosa de documentário político. Emocionou os uruguaios ao ser exibido na noite de ontem para uma plateia que encheu o cinema de ex-exilados e militantes políticos no 15º Festival Internacional de Cine de Punta del Este.

Trincheira

Recém-destituído da liderança do governo, Romero Jucá (PMDB-RR) já tem a sua trincheira de luta: a Comissão Mista de Orçamento, da qual será o relator-geral para a peça orçamentária da União de 2013. Conhece a matéria de cor e salteado, com a expertise de mais longevo líder governista desde a redemocratização do país. Cristão novo no Senado, o novo líder do governo, Eduardo Braga, não pode contar com o apoio integral do "ex-grupo dos oito", os senadores rebeldes do PMDB do qual fez parte, para exercer o cargo. Terá que comer pelas mãos do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP); do líder Renan Calheiros (PMDB-AL) e do próprio Jucá.

Verdes/ Depois da saída de Marina Silva, o programa do Partido Verde que vai ao ar hoje abriu um pouco o leque. Além dos temas ambientais, que ainda dão o tom — com destaque para a Rio+20, a questão da água e o Código Florestal —, fala também de diversidade, da participação da mulher na política e de acessibilidade.

Palestra/ Próximo presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Carlos Ayres Britto irá proferir a aula magna dos estudantes de graduação em direito do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), em Brasília. Ele falará sobre o tema "Do direito como técnica de controle social ao direito como indutor de avanços civilizatórios", hoje, às 19h30, no auditório da instituição. A palestra tem entrada franca, com vagas limitadas.

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