quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Começou a batalha

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 25/01/2012
Há muitas maneiras de interpretar a concorrida cerimônia de posse dos ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp, ontem, que serviu também de despedida da Esplanada do ex-ministro Fernando Haddad. Do ponto de vista da luta política, porém, foi o começo de uma ofensiva petista para recuperar a Prefeitura de São Paulo nas eleições municipais deste ano.

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Não foi outro o sentido da presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado da presidente Dilma Rousseff, que recebeu muitos aplausos quando tirou o chapéu e exibiu a careca de quem ainda se submete a tratamento contra um câncer na laringe. Um recado claro de que vai pisar no barro para alavancar a candidatura de Haddad, que ainda não decolou. Foi-se a ilusão da oposição de que a doença o manteria afastado da disputa eleitoral de rua.

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Ficou evidente o constrangimento do vice-presidente Michel Temer, a maior parte do tempo ignorado pela ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman, e pela própria presidente Dilma, cuja atenção foi toda dedicada ao ex-presidente Lula, como seria natural. Antes, a presidente da República fora pessoalmente recebê-lo na entrada do Palácio e liderara o "Lula, lá" dos funcionários do Planalto liberados dos afazeres para recepcioná-lo. A candidatura à Prefeitura de São Paulo do deputado Gabriel Chalita (PMDB), cujo artífice é Temer, representa a maior ameaça aos objetivos do PT em São Paulo. O jogo para tirá-lo do caminho de Haddad é pesado e já começou.

Consenso//

 A decisão sobre quem vai ser o líder do PT na Câmara em 2012 está marcada para 7 de fevereiro, com a presença de toda a bancada petista. Segundo o deputado federal Valmir Assunção (BA), que compõe o grupo de discussão sobre a sucessão de Paulo Teixeira (SP), a tendência é que haja um acordo: "Vamos trabalhar na construção de uma unidade acerca da nossa liderança, evitando disputas e processos de votação". Os deputados José Guimarães, do Ceará, e Jilmar Tatto (SP) disputam o cargo voto a voto.

Enem

A presidente Dilma Rousseff fez uma apaixonada defesa da realização do Enem, que considera um instrumento fundamental do Ministério da Educação para a execução dos seus principais programas, como o Prouni e o Ciência sem Fronteira. Para exemplificar, citou o episódio ocorrido na solenidade de comemoração da concessão de 1 milhão de bolsas de estudos do Prouni, na segunda feira, no qual foi abordada por uma estudante recém-formada em medicina, que fez questão de lhe dizer que era filha de uma faxineira.

Quem, eu?

O governador da Bahia, Jaques Wagner, foi mau como o Pica-pau do desenho animado. O petista disse ontem, no Palácio do Planalto, que o convite ao ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli para que integre sua equipe de governo ocorreu depois de anunciada a sua saída da empresa. Não havia nada combinado. Ou seja, Gabrielli acabou mesmo defenestrado pela presidente Dilma Rousseff.

Relatório

Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), o Dnocs teria beneficiado o Rio Grande do Norte, terra do diretor-geral Elias Fernandes e de seu padrinho político, Henrique Eduardo Alves, o líder do PMDB na Câmara. Dos 47 convênios firmados, 37 beneficiaram municípios do estado. Na gestão de pessoal e em contratações irregulares, houve prejuízos de R$ 312 milhões

Pagou pra ver

A entrevista do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso à revista britânica The Economist foi um xeque-mate no ex-governador José Serra, que ameaçava deixar o PSDB para concorrer à Presidência da República por outro partido caso sua candidatura seja preterida. FHC declarou sua preferência pela candidatura do senador Aécio Neves e resolveu disputar corações e mentes dos serrristas para mantê-lo no ninho tucano.

Fair play

O ex-governador José Serra minimizou as declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: "São opiniões dele. Não estou de acordo com algumas delas, mas não vou polemizar com um amigo", disse. Já o senador Aécio Neves (PSDB-MG), diante da preferência de FHC por sua candidatura, se fez de modesto: "Agradeço a referência do presidente Fernando Henrique. O partido saberá definir o melhor nome, entre os vários de que dispõe, no momento certo, que, acredito, será após as eleições municipais".

Sai pra lá

A cúpula do PSDB reagiu às declarações do secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, sobre a operação de reintegração de posse na invasão do Pinheiro, em São José Dos Campos. "É deplorável a intromissão do governo federal, através do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República." Segundo o presidente interino da legenda, Alberto Goldman, Carvalho "sugeriu à nação que não se acatem decisões judiciais". A operação foi comandada diretamente pela Presidência do Tribunal de Justiça paulista.

Mar de lama/ O líder do PPS na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), pediu investigação contra o diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs), Elias Fernandes, diretamente à Procuradoria da República do Distrito Federal. Para Bueno, a nova denúncia mostra claramente a profundidade da corrupção que envolve o governo federal e a base aliada. Segundo o parlamentar, "a gestão petista na administração pública federal já virou um mar de lama".

Viva Chile/ Em entrevista ao jornal El Mercurio, do Chile, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, escalou uma seleção de craques chilenos do futebol e da literatura. Entre os bons de bola, Figueroa, Zamorano, Caszely, Salas. No time dos literatos citou Pablo Neruda, Manuel Rojas, Gabriela Mistral, Volodia Teibelboim. Mas, com ironia, concluiu que a seleção dos escritores é "bem maior" do que a dos futebolistas.

Protesto/ Será hoje, na Catedral de Brasília, às 12h30, a missa de 7º dia de Duvanier Paiva Ferreira, de 56 anos, secretário de recursos Humanos do Ministério de Planejamento que morreu por falta de atendimento médico nos hospitais Santa Lúcia e Santa Luzia. Depois, haverá um protesto contra o descaso.

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