sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Guerra de versões

Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos


Na política, com o predomínio da mídia eletrônica como meio de campanha, a construção da imagem é resultado cada vez mais do choque de versões, e não do debate de ideias, como muitos gostariam que fosse. No segundo turno da disputa eleitoral, essa guerra se intensificou ainda mais. Ontem, certamente, registrou um de seus melhores momentos, com a divulgação de imagens sobre a agressão ao tucano José Serra (PSDB) por militantes da campanha de Dilma Rousseff (PT) em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, com base em duas reportagens, uma da TV Globo e outra do SBT.

Segundo a TV Globo, Serra teria sido agredido na cabeça por um objeto lançado por militantes do PT e foi obrigado a interromper a campanha e a fazer um exame médico. Já o SBT mostra a imagem de uma bola de papel que atinge o candidato tucano, que teria simulado uma agressão mais grave depois de um telefonema de origem não identificada. No horário eleitoral de Serra, o episódio é comparado a uma agressão sofrida pelo ex-governador de São Paulo Mauro Covas, que levou uma paulada de um manifestante. A reação da campanha de Dilma ao programa de Serra foi dura, a ponto de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificar a veiculação da reportagem da TV Globo como uma "farsa vergonhosa" e exigir um pedido de desculpas de Serra.

A guerra de versões não para por aí. Na internet, vale tudo: números e mais números sobre os governos Lula e Fernando Henrique Cardoso, calúnias sobre a vida pessoal de Dilma e de Serra e toda sorte de comentários sobre suas convicções religiosas e políticas. O eleitor escolhe a versão que quiser, numa guerra na qual a verdade quase sempre é a grande vítima. No rumo que tomou a campanha, o número de abstenções deve aumentar. Muita gente vai aproveitar o Dia de Finados para viajar.

Pesquisas

A guerra de versões também ocorre na interpretação das pesquisas de intenções de votos. Na noite de quarta-feira, foram divulgadas uma do Ibope e outra do CNT/Sensus. Na primeira, Dilma Rousseff (PT) tem 51%, contra 40% de José Serra (PSDB). Brancos e nulos somam 5%, e os indecisos, 4%. Considerando os votos válidos, Dilma tem 56% e Serra, 44% . No mesmo dia, o Instituto Sensus apontou a possibilidade de um empate técnico no limite da margem de erro (2,2 pontos percentuais para mais ou para menos) entre Dilma e Serra. Nessa sondagem, Dilma aparece com 46,8% das intenções de voto, contra 41,8% de Serra. Brancos, nulos e indecisos somaram 11,3%. Considerando os votos válidos, a petista teria 52,8% e o tucano, 47,2%.

Polêmica

A pesquisa Sensus seria liberada na manhã de quarta-feira, mas o instituto alegou problemas na aplicação dos questionários e sustou a divulgação, com o argumento de que a chuva comprometeu a pesquisa nas regiões Norte e Nordeste. À noite, sem alarde, divulgou o resultado na internet. As pesquisas Sensus, que nunca foram vistas com bons olhos pelos tucanos, andam discrepando dos resultados dos institutos Vox Populi e Ibope. Como todos erraram em relação aos resultados do primeiro turno, a polêmica sobre a qualidade dos levantamentos só aumenta. A propósito, hoje deve ser divulgada uma pesquisa grande do Datafolha.

Feliz da vida

O deputado cassado José Dirceu, na quarta-feira à noite, foi um dos últimos a deixar o restaurante Piantella, tradicional reduto dos políticos de Brasília, onde jantou com o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, seu amigo. Depois, jogou conversa fora com um grupo de jornalistas, dos quais quase sempre mantém distância regulamentar. Avalia que a eleição ainda não está definida e considera o tucano José Serra um osso duro de roer. Porém, não tem dúvida de que Dilma Rousseff acabará eleita, porque encarnaria a aprovação do governo e o prestígio do presidente Lula.

Ferroviários

O Departamento de Administração de Pessoal de Órgãos Extintos (Derap),responsável pelos empregados das estatais liquidadas pelo governo, mandou sustar os benefícios de 90 mil ferroviários (a maioria aposentados e com mais de 70 anos) e de suas famílias. São mais de 270 mil dependentes. Os ferroviários são pagos de acordo com a CLT, e não pelo Estatuto do Funcionário Público.

Contra-ataque

A campanha do tucano José Serra está preparando um contra-ataque caso os petistas invoquem a "pasta preta" do delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz no próximo debate eleitoral da TV Globo. Protógenes foi eleito deputado federal pelo PCdoB de São Paulo e tem acompanhado os petistas nos debates entre Serra e Dilma Rousseff. Os documentos teriam sido obtidos ilegalmente.

Pelo telefone

O PT protocolou um pedido para investigar a existência de um telemarketing agressivo contra Dilma Rousseff. Segundo o partido, nas ligações há mensagens caluniando a imagem de Dilma.

Tiroteio

O número de pedidos de direitos de respostas entre os candidatos que disputam a Presidência da República quase que dobrou no segundo turno em comparação com a primeira etapa do pleito. Foram 33 até o primeiro turno; agora, já são 63.

Guarda-provas / A Superintendência da Polícia Federal no Mato Grosso do Sul inaugura, em 19 de novembro, o primeiro Centro de Custódia de Provas. As salas substituirão as carceragens que a PF tinha nos estados. Elas serão codificadas e servirão para armazenar todo o conteúdo de provas colhidas nas investigações.

Justiça /Dois acordos de cooperação internacional para a modernização da Justiça brasileira serão assinados durante a 16ªConferência de Ministros da Justiça de Países Iberoamericanos (Comjib), nos próximos dias 21 e 22, na Cidade do México. O secretário executivo do Ministério da Justiça, Rafael Favetti, representará o Brasil no encontro. O primeiro acordo prevê a troca de experiências entre Brasil e Portugal sobre o monitoramento eletrônico de presos.

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